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IPE lab: na sequidão do cerrado, uma correnteza de ideias

Em 27/12/18 10:33. Atualizada em 27/12/18 10:34.

Novo laboratório da UFG visa dar materialidade às ideias empreendedoras

Gustavo Motta

Campus Samambaia, UFG. Quem caminha por ali, logo no início da tarde, sente o calor e o açoite do sol nas costas. Mas quem diria que, em meio ao tempo seco, em um dia de verão, brotaria um espaço para acolher as torrentes de ideias, experiências e saberes? Esse é o IPE lab, um projeto desenvolvido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI/UFG) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que tem por objetivo trazer o frescor que ocupa o mundo das ideias ao plano da materialidade, e enriquecer experiências arrojadas de empreendedorismo. “Esse é um espaço que vai ser aberto à comunidade, onde as pessoas poderão colocar em prática suas ideias, criando protótipos e moldes de projetos”, destaca o pró-reitor Jesiel Freitas Carvalho.

Lançamento IPE lab

Laboratório aberto ao público para abrigar atividades em empreendedorismo e inovação

Para que as ideias saiam do papel, é necessário meios de criação. A estrutura do IPE lab conta com uma diversidade de ferramentas, como as tecnologias capazes de produzir materiais em 3D, tais como routers e impressoras. “A iniciativa desse projeto é motivada por uma decisão da UFG de criar ambientes que promovam o desenvolvimento da criatividade e da invenção, para que nossos estudantes, além de inventores e empresários, possam dar vazão à sua capacidade empreendedora”, acrescenta. Especificamente sobre os graduandos, Jesiel Freitas acredita que um dos grandes diferenciais do laboratório é a integração entre as diferentes áreas e a troca de conhecimentos. “O discente de Agronomia vai dividir espaço com o da Informática, que vai trocar ideias com o das Artes. E isso vai enriquecer muito os processos de criação”.

O espaço deve entrar em funcionamento em 2019. Uma página virtual está em construção e será lançada no início do ano, com todas as informações de acesso ao local. Contudo, o diretor adjunto do Parque Tecnológico Samambaia, Luizmar Adriano, antecipou que o laboratório será aberto ao público no início das aulas letivas da Universidade. “É uma grande satisfação ajudar a construir uma experiência desse tipo, que deve se expandir e servir ao empreendedorismo em todo o estado”, comemora. Isso porque o IPE lab no Campus Samambaia é apenas o primeiro de sete unidades que serão construídas no próximo ano, sendo quatro em Goiânia e três em cidades no interior goiano.

Tecnologias

Quem passar pelo prédio do laboratório, vai encontrar equipamentos especializados em impressão, cortes, e criação física de protótipos em geral. Gustavo Jordão, servidor técnico-administrativo do Planetário, ficou por conta de apresentar uma fresadora similar a que será instalada no laboratório. “A fresadora atua em movimento contínuo, e pode criar materiais cuja formação poderia ser inviável em impressoras 3D, devido à complexidade geométrica e composição material”. Diferente do torno, que cria objetos de modo giratório (como o processo artesanal de fabricação dos vasos), a fresadora mantém a peça estática.

Lançamento IPE lab

Tecnologias práticas e multifuncionais acessíveis à comunidade

“Conseguimos fazer moldes para injeção, engrenagens, materiais para laboratórios. Inclusive, no Instituto de Física (IF), criamos um porta materiais com essa máquina”, afirma Gustavo. A fresadora é controlada remotamente por um computador com software, oferecido pelo próprio fabricante. Enquanto Gustavo Jordão apresentava o equipamento para curiosos, a fresadora imprimia um modelo em três dimensões da logo que representa o laboratório. “É uma tecnologia prática, multifuncional, que permite a execução de muitas possibilidades criativas”, avalia.

Outro destaque do IPE lab é a impressora Zmorph, que derrete um material plástico e o transforma em objetos tridimensionais. “Os objetos são criados gradualmente, de modo análogo à construção de andares, em sentido multidirecional, o que permite fazer peças com diversas formas, relevos e gradações de cor”, destacou Thabata Ganga. A Zmorph atua com diversos tipos de matérias-primas, inclusive alimentos, como chocolates e massas de panquecas. Para as ciências biológicas, o equipamento é eficaz na reprodução de diversas mostras. Engenheira Biomédica, Thabata conta que a máquina permite reproduzir tecidos diversos.

Regionalidade e inovação

O nome do laboratório homenageia a natureza do cerrado ao fazer referência a uma das árvores mais bonitas da região: o ipê, cujas flores (roxas, rosadas, amarelas e brancas) costumam florescer por volta de julho. A diretora de Transferência e Inovação Tecnológica da UFG e pró-reitora adjunta de Pesquisa e Inovação, Helena Carasek, conta que, em breve, ipês serão plantados nas imediações do novo prédio. “Queremos criar um local prazeroso e bonito, visitado pela comunidade, onde todos poderão tirar fotos, entrar e conhecer o nosso trabalho”.

Helena Carasek conta que a escolha do nome ainda assimila o que há de mais arrojado nas tecnologias e denota o contato com o futuro sem tirar os pés da regionalidade. “Existe um duplo significado, a ligação do novo com o tradicional”. Ao mesmo tempo que homenageia a exuberância local, o nome “IPE” é uma sigla que aponta para ideia, prototipagem e empreendedorismo.  Em uma escala cronológica, as três palavras representam um processo criativo e significam, respectivamente, o surgimento de uma ideia, o experimento e a aplicação da mesma.

Lançamento IPE lab

Espaço pretende dar materialidade às ideias empreendedoras

Outro grande diferencial do IPE lab, segundo a pró-reitora, é a sinergia entre as pessoas, a cooperação, a troca de experiências, saberes e “pitacos”, capazes de contribuir com o melhoramento de ideias. “Queremos que as pessoas sejam constantemente estimuladas a aprimorar suas habilidades inventivas, e essa cooperação é fundamental, para que a ideia se torne um dispositivo funcional, e para que parcerias construtivas sejam criadas”, pontuou Helena Carasek.

Para Luizmar Adriano, o IPE lab tem potencial para exercer grande influência no desenvolvimento econômico regional. “Vamos receber empresários, estudantes e pesquisadores, que vão poder contribuir com seus conhecimentos para atender a demandas da sociedade”. O diretor adjunto do Parque Tecnológico Samambaia comemorou os esforços de expansão do projeto para outros pontos da capital e do interior goiano. “Teremos novas unidades na Escola de Agronomia (EA), Faculdade de Artes Visuais (FAV) e na quadra das Engenharias, além de laboratórios nas cidades de Goiás, Jataí e Catalão”. A iniciativa não apenas fortalece o empreendedorismo local, como descentraliza o fluxo e aplicação de ideias, e reduz as desigualdades regionais quanto ao atendimento de demandas da sociedade e, inclusive, mercadológicas.

O coordenador do Centro de Empreendedorismo e Incubação em Catalão (CEI Athenas), Marcelo Stoppa, comemora a expansão futura do IPE lab, e avalia que a instalação de laboratórios no interior é um “divisor de águas no empreendedorismo e na relação entre a sociedade e a Universidade no sudeste goiano”. O professor espera que um grande número de pessoas possa se beneficiar do espaço, quando o mesmo estiver em funcionamento.

Jesiel Carvalho conta que parcerias institucionais têm se firmado para a efetivação do IPE lab como local criativo. “Temos contado com o apoio da Funape (Fundação de Apoio à Pesquisa) e Fapeg (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás), além da parceria com o Sebrae, com quem vamos formalizar um cronograma para o próximo ano, e definir quais cursos e treinamentos serão oferecidos”. Ademais, empresas jovens e inovadoras (as chamadas “startups”) terão apoio no encaminhamento de projetos a serem prototipados no laboratório. Por isso, o local tem chamado a atenção, não apenas de membros da comunidade acadêmica, mas de representantes da área empresarial.

O superintendente do Sebrae em Goiás, Igor Montenegro, destacou que o IPE lab “deve tornar-se uma referência no atendimento a empresas com ideias transformadoras, baseadas na tecnologia e na inovação”. A entidade é parte do “Sistema S”, que abriga nove instituições, representativas de interesses das categorias profissionais.

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