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Pesquisadores apontam tendências em gestão de dados

Em 27/11/20 17:29. Atualizada em 28/11/20 12:21.

Apresentações ocorreram durante o lançamento oficial da Plataforma REDCap-UFG

A coleta e gestão de dados de forma segura e padronizada e o compartilhamento, quando pertinente, foram alguns dos pontos de destaque do Workshop de lançamento da REDCap-UFG no dia 25 de novembro. Os pesquisadores de todas as áreas do conhecimento da Universidade Federal de Goiás agora poderão ter acesso à Plataforma REDCap-UFG que vai permitir o gerenciamento de dados de pesquisa, com a possibilidade de assegurar a integridade, a reprodutibilidade e a segurança dessas informações.

O lançamento da plataforma contou com as presenças do reitor Edward Madureira Brasil, do pró-reitor de Pesquisa e Inovação, Jesiel Carvalho, e da diretora de Pesquisa da PRPI, Rejane Faria Ribeiro-Rotta. Na UFG, a plataforma está vinculada à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), com apoio técnico do Laboratório Multiusuário de Computação de Alto Desempenho (LaMCAD).

Reitor Edward Brasil no workshop REDCap-UFGPró-reitor Jesiel Carvalho no workshop REDCap-UFGDiretora de Pesquisa Rejane Ribeiro-Rotta no workshop REDCap-UFG

Visão internacional

“É preciso abrir quando possível, mas fechar quando necessário.” Essa frase, baseada na diretriz da Comissão Europeia sobre gestão de dados em pesquisa, foi marcante na apresentação de Pascal Aventurier, responsável pelo Serviço de Informação Científica e Tecnológica do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), que abriu mesa-redonda sobre o tema. Ele afirmou que a REDCap é um projeto muito bom e vai incentivar a gestão de dados na UFG.

De acordo com Aventurier, o compartilhamento de dados entre pesquisadores de várias partes do mundo é muito importante, especialmente no contexto pandêmico mundial da Covid-19. “Há desafios que precisam ser enfrentados e é preciso juntar todas as forças do conhecimento de pesquisadores de todo o mundo.”

Pascal Aventurier no workshop REDCap-UFG

Por que compartilhar dados? Pascal defende que há vários benefícios para diversos tipos de atores:

  • Pesquisadores – alcance de maior visibilidade e impacto do trabalho, possibilidade de colaborações e de financiamento.
  • Agências de fomento – potencial aumento da visibilidade, a reutilização das pesquisas financiadas e o retorno sobre o investimento.
  • A sociedade - “É importante compartilhar os dados porque o público também precisa ter confiança na ciência e esta deve ter transparência.”  
  • Os governos nacionais também se beneficiam quando nas suas metas estão as políticas baseadas em provas, em dados, em conhecimento científico correto e a promoção dos direitos humanos e da democracia.
  • As revistas científicas - que precisam dos dados para as evidências das publicações, por questões éticas e de reprodutibilidade. Pascal ressalta que essas revistas agora vão exigir a disponibilidade dos dados para as revisões por pares (Peer review). “É um movimento muito forte. Então essa tende a ser a regra. A disponibilização de dados será cada vez mais efetiva, inclusive no Brasil.”

Outra questão destacada pelo palestrante foi a importância de boas práticas. “Perdemos muita informação por produzirmos dados sem seguir as regras internacionais ou as boas práticas. Esse desafio de produzir dados padronizados é muito importante”, salientou o chefe de Informação Científica do instituto francês. Ele falou sobre a importância do Plano de Gestão de Dados – documento que descreve quais dados serão coletados ou gerados; quais as metodologias e padrões que serão utilizados nesses processos; se, como e sob que condições esses dados serão compartilhados e/ou tornados abertos para a comunidade de pesquisa; e como eles serão curados e preservados.

Ciência aberta na Fiocruz

Para Maria de Fátima Moreira Martins Corrêa, membro da Coordenação de Informação e Comunicação da Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o acesso aos dados democratiza a produção científica e beneficia toda a sociedade. 

“Este evento é um passo para pensarmos como agir em uma ciência aberta, colaborativa, refletindo e aprofundando sobre ferramentas e recursos”, avaliou Fátima Martins. Ela também ressaltou o esforço do consórcio REDCap para respostas à epidemia de Covid-19 e elogiou o fato de a UFG estar trabalhando com essa plataforma.  

Fátima Martins no workshop REDCap-UFG

A pesquisadora compartilhou a experiência da Fundação na implementação da política da ciência aberta na instituição. Ela falou sobre as resistências contra a abertura, mas também destacou o lema europeu, nas suas palavras, “aberto se possível, fechado quando necessário”. “Pode-se justificar a não abertura alegando direitos de propriedade, privacidade, comprometimento do objetivo do projeto e outras razões que o próprio autor pode justificar”, explicou a palestrante.

Fátima destacou que é preciso vencer preconceitos que associam a ciência aberta apenas a compartilhamento de dados. Ela citou o exemplo no contexto da epidemia de Zika, quando foram reunidos, em um só evento, médicos, cientistas, profissionais da informação e mães e suas crianças para estabelecer o protocolo desde o diagnóstico de Zika na mãe até o nascimento da criança.

“Naquele momento, foi muito importante as mães estarem lá conosco. Quando ouvíamos alguém da clínica médica dizer, por exemplo, o terceiro passo é esse, as mães levantavam as mãos para dizer que aquele passo não poderia estar em terceiro lugar, teria de vir antes”, relatou Fátima. Isso porque, segundo a pesquisadora, havia crianças nascendo com o crânio normal e com cérebro muito menor do que a outra que tinha o achatamento da cabeça. E sem aquele determinado exame, a mãe tinha dificuldade de provar que as anomalias cerebrais da criança tinham relação com a Zika. “Esse foi um exemplo de ciência com e para a sociedade.”

Ciclo de Vida dos Dados

Kátia Regina da Silva, fundadora do Consórcio REDCap Brasil, do qual é diretora científica, e pesquisadora do INCOR-USP, afirma que os dados são patrimônio de qualquer instituição e, em uma universidade, o valor deles é ainda mais relevante. Dentro desse contexto, ela apresentou a importância do gerenciamento de dados para garantir a integridade, a reprodutibilidade e a segurança das informações.

Kátia Regina Silva  no workshop REDCap-UFG

Kátia apresentou a visão de Ciclo de Vida dos Dados do Consórcio REDCap que foi elaborada a partir de um mix dos modelos europeu e norte-americano. A primeira etapa diz respeito ao planejamento. “Temos de ter clareza de que dados vamos coletar, como eles serão organizados, documentados e como eu vou armazenar esses dados.” Ela questiona: “vou usar uma taxonomia especializada no momento de definir e codificar variáveis, para permitir uma interoperabilidade entre diferentes bancos, sistemas e países?”

A segunda etapa é a Coleta que inclui como coletar dados, qual o cronograma e como lidar com dados que refletem um evento adverso, fora da cronologia estabelecida; e como capacitar as pessoas para essa etapa. O terceiro passo diz respeito ao monitoramento. “Terei estratégias específicas para monitorar a qualidade dos dados em tempo real? Como vou garantir a integridade dos dados, a segurança, a privacidade?” – questiona Kátia da Silva.

A fase de processamento e análise dos dados também deve ser objeto de atenção. “É isso que vai guiar os modelos de decisões dos projetos, vai trazer as evidências que estamos querendo construir”, afirma a diretora científica da REDCap Brasil. A pesquisadora cita ainda o quinto elemento do ciclo que seriam as políticas de preservação dos dados, de compartilhamento, o reuso, o depósito dos dados em repositórios. “Nós devemos contemplar todas essas etapas e elas de certa maneira se retroalimentam.” 

Premissas para a gestão de dados

Kátia da Silva também questionou como os pesquisadores armazenam seus dados e exemplificou formas consideradas obsoletas como computadores, pen-drives, celulares, entre outros. Ela citou o levantamento de 2018 feito por uma empresa de consultoria norte-americana que mostrou números alarmantes sobre perdas de dados no mundo, chegando a 214 registros por segundo.

“Como armazenar esses dados? Temos de buscar estratégias centralizadas sempre que possível”, afirmou a pesquisadora. Ela citou a importância de cada instituição ter a sua governança de dados e disse que a forma mais segura hoje é a utilização de um servidor em nuvens ou físico. Nesse ponto, Kátia ressaltou a importância do software escolhido para capturar e gerenciar esses dados.

A diretora científica da REDCap Brasil listou alguns pontos desejáveis em um software para a pesquisa. A primeira premissa é que o software seja baseado na internet, o que permite a coleta de dados de maneira remota. Também é muito desejável que esse software atenda toda a parte de conformidade regulatória.

Outro ponto citado por Kátia da Silva é a garantia de auditoria de todos os processos. “ E também que seja um produto que me garanta flexibilidade, no sentido de alterações que forem necessárias, a reprodutibilidade também do que estou construindo, que garanta também o acesso por múltiplos usuários, que me dê uma documentação em metadados para quando eu for colocar esses dados num repositório público”, elenca a diretora.

Kátia explica que a REDCap preenche todos esses critérios. “Esse software está mudando o status de qualidade dos dados no mundo inteiro.” A pesquisadora então apresentou um panorama geral do software REDcap e convidou todos a acessarem a página da REDCap Brasil para saber mais e conferir cursos, treinamentos e webinars programados.

Plataforma REDCap-UFG

Segundo a diretora de Pesquisa da PRPI, Rejane Faria Ribeiro-Rotta, a UFG disponibiliza um treinamento introdutório, mas por enquanto não oferece um treinamento continuado específico. O esclarecimento de dúvidas durante o desenvolvimento dos projetos na Plataforma pode ser feito via Fórum de Dúvidas do Consórcio REDCap-Brasil (acesso apenas para os usuários com cadastro aprovado na UFG) ou pelos vídeos disponibilizados pela Universidade de Vanderbilt, criadora da REDCap.

Rejane Ribeiro-Rotta ressaltou a importância do esforço coletivo daqueles que se beneficiarem da REDCap-UFG, na busca de alternativas para aprimorar o seu uso, como, por exemplo, definindo quantitativos de financiamento de seus projetos para capacitação de recursos humanos, não apenas para o uso da plataforma nas suas pesquisas, mas também para colaborar na gestão da REDCap para toda a UFG. “Quem sabe no futuro não possamos ter um escritório não só para a REDCap, mas para o gerenciamento de dados em pesquisa? Fica então esse desafio”, concluiu Rejane.

Ao final do workshop, Ana Laura de Sene Amâncio Zara, professora substituta do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), pós-doutoranda da Faculdade de Odontologia da UFG e membro do Comitê Gestor REDcap-UFG, explicou como é o acesso à plataforma REDCap-UFG e apresentou alguns exemplos de projetos-piloto desenvolvidos para construção do modelo de gestão da plataforma.  De acordo com a diretora de Pesquisa, Ana Laura foi fundamental para estruturar esse modelo.

Mais informações e íntegra do workshop

Assista ao workshop neste link – playlist com as sessões da manhã e da tarde.

Para saber mais sobre a plataforma, acesse este link. Dúvidas podem ser enviadas pelo e-mail redcap.prpi@ufg.br.

 

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